domingo, janeiro 31

Sobre fé














[Tirinha Ricardo Liners]

Ele foi sussurrado em meu ouvido na tarde de céu azul
A previsão do imprevisível

Uma noite, um olhar, uma conversa, um beijo
E tudo estava mudado,
transformado

Pousou em meu ombro e despertou minha alma cansada

Guardou-me em suas costas
O beijo plantado na dobra da nuca
E a alegria de se saber ímpar, de se saber completa de verdade

Ele me disse que me presentearia
Disse-me que o melhor Dele ainda estava por vir
E eu acreditei...

Bem-aventuradas são as almas crédulas.

(Darla)

sábado, janeiro 30

Introspecção

 
A menina fechou a porta e não quis se despedir,
mas eu lancei um olhar fixo, sério, como quem diz: é hora, a noite já vai alta e a menina precisa dormir.
Ela me lançou um olhar molhado.

Marcada pelas listras do vestido azul, sob o sol intenso que lhe fecha os olhos, os dedos saltavam as cores como quem pisa nas faixas pretas da orla.
Entranhamento frente a sua própria imagem, disforme no espelho d’água da poça formada pela chuva de minutos.
Um olhar de saudade, voltado aos pés, mãos e pele.

Revira-se e como que se procurando, caminha com os dedos sobre as curvas marcadas do vestido listrado, tocando as faixas roxas, pulando até o branco, o branco exposto, para se ver claramente.

(Darla)

segunda-feira, janeiro 25

O que aprendo com ele [1]








[Tirinha Ricardo Liners]

Ele me disse que facas não devem ser manuseadas como canetas com que se escrevem poemas. Disse isso pelo risco de me ferir já que as pego afoitadamente.
Facas são para cortar o pão e enchê-lo de manteiga e para tirar a lasca do queijo que se coloca dentro do mesmo pão quentinho às 5 da tarde e que nos rouba um sorriso de satisfação pela hora do café.
Mas canetas com que se escrevem poemas não fazem o mesmo?
Ora, para mim, caneta com que se escreve poema e faca com que se corta e recheia o pão é tudo a mesma coisa.
Uma pode ser ancestral da outra em que a caneta é o resultado da evolução da faca, ou vice-e-versa, ou melhor, talvez sejam primas de 3°grau. Eu mesma tenho vários e os descobri geralmente em festas de casamento ou formaturas de medicina em que se unem todas as gerações da família para comemorar e você descobre que aquele cara chato da escola era sangue do seu sangue. Afff...
Conclusão: Ele está certo, não devo manusear canetas com que se corta da mesma forma que facas com que se escreve.

(Darla)

sexta-feira, janeiro 22

Observação











Prefiro os sebos

Assim como prefiro roda de amigos numa mesa qualquer bebericando e rindo.

As livrarias com toda aquela gente com ar intelectual [não que coloque em xeque sua intelectualidade, mas me aborrece aquele olhar por cima, aquele toque sutil demais, aquele ar enjoativo].

Livros devem ser pegos, tocados e ensebados nas mãos suadas. E se têm marcas e se têm rabiscos é porque têm vida, é porque têm alma, de hoje ou de ontem, e que carrega histórias, mais do que as escritas: histórias confidenciadas.

Há gosto pra tudo, há quem goste de shopping, há quem goste de feira...

Quanto a mim, prefiro os sebos e ponto final.

[e alguém me perguntou alguma coisa?]

(Darla)

segunda-feira, janeiro 18

“Terque”


Engolidos pelo “terque”
São estes que vêm pela estrada com olhos cansados, passos na direção do fluxo e um só objetivo: conjugar o verbo “terque”.

O metrô passa cortando o vento: é preciso pular pra dentro e pra fora, é preciso agilidade.

O ônibus passa, o sinal não abre, ele se vai e tomados pela impaciência, respira-se o rastro da fumaça: é preciso acelerar o passo, é preciso não mastigar, não digerir e competir.

Prontos para a guerra: a guerra travada no trânsito, no trabalho, na calçada e dentro de si.

“Temquese” omitir palavras de amor, “temquese” ter o pé atrás, duvidar e desconfiar, “temquese” abster do crescimento dos filhos, da carência da esposa, dos amigos que só queriam um telefone seu, do sorvete na pracinha, dos pássaros que nascem e voam todos os dias, dos dias que passam e que não voltam.

Era uma tarde de domingo quando você se sentiu feliz e leve, então por que se preocupava com a cartilha de tarefas do trabalho da segunda?:a cada dia não basta seu mal?

Não se temque nada
A não ser, ser feliz!

(Darla)
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