quinta-feira, julho 22

Oi amor,

Ligo pra que o instante não mais me sufoque e pra que de longe me afague o rosto em pranto e aqueça o coração que anda perturbado e cambaleante.

Há dias não chove na cidade, o chão anda seco e em mim, flores clamam por água (disseram-me um dia que eu era uma flor de espécie desconhecida - concorda com este disparate? hummm, só porque preciso de sol, água, e todas aquelas coisinhas de bactérias e minerais - que aprendi na aula de biologia - pra sobreviver?)

Mas enfim, ligo porque tua voz sopra em meus ouvidos mais uma chance e restaura em mim a paz, a vontade e a fé, esse sentimento que ressuscita mortos. Perto de você me sinto mais perto dEle.

E se tua tristeza me comove, ela mesma fala pra meu espírito se fazer forte pra te fazer feliz, pois não suporto vê-lo desassossegado. Nasci com o dever de te cuidar. 

Mas como também nasci eufórica e cresci agitada, troco por vezes pés por mãos, tropeço nos cristais da sala e no fim quem me cuida é você. E eu nem gosto de receber seus mimos e sorrisos... ;)

É, ligo pra quase telepaticamente dividir com você o que se passa por dentro e pra falar em silêncio. E nessas e outras, dou a sorte de ouvir que a lua está iluminando lindamente a grama do quintal (pude até imaginar).

Liguei porque só você sabe contar as histórias de forma tão detalhada a ponto de eu ver a cena (melhor do que ler livro) e porque no fim do papo pesado sempre vem a frase celebre que faz tudo ficar leve.

Enfim, ligo porque mesmo que eu esteja no meio de um furacão, você é minha certeza junto a quem te deu pra mim e a única conclusão que resta é, que se sou Alice, você só pode ser o próprio País das Maravilhas.

(Darla)

sábado, julho 17

Andança

Ao longe, as catedrais badalavam seus sinos
E ao longo da rua havia gente perambulando, vendendo e comprando rendas, homens e amendoins torrados, meninos com peões, sandálias subindo as ladeiras, saltando as poças, esperando,
buscando.
Os sinos tilintavam em seus ouvidos e os dentes acompanhavam a melodia no ranger,
As narinas dilatavam na expiração e o vento vez ou outra agitava o vestido.
Então fechou os olhos como quem dorme, depois como quem chora, depois como quem ora, depois como quem conclui.
Concluiu, mexeu os lábios pra um lado só, daí mordiscou o inferior.
Falou algo, mas não quis ouvir por mais que ela quisesse que fosse ouvido.

Daí pensou, seguiu, parou, olhou pra trás, pra frente, abriu a porta e se foi.
Tive pena de tudo quanto ela era e que não é. Muita pena.

(Darla)

sexta-feira, julho 16

Fotografia de Alice

Tomou nas mãos aqueles pequenos retalhos e passou a uni-los em oração.
Cada xadrez, ligado a um fio que ultrapassava círculos e contornava pequenas flores, formava um jardim.
Achava-se cheia dos retalhos, das pequenas miudezas que mal enchiam a xícara, faltava-lhe sempre o chá todo e faltava-lhe uns amanteigados, uns beijinhos de côco e sonhos açucarados (por mais que ela os produzisse toda noite).
A toalha de mesa costurada a mão já tinha cauda, que corria todo o salão e a contornava os ombros e no reflexo do chá ainda os mesmos olhos marejados e desejosos,
Marejados e ansiosos,
Marejados e infantis, esperançosos por amoras frescas, casadinhas e suspiros.

(Darla)

sexta-feira, julho 9

Me responde só isto
[Se tudo na vida há de ter resposta]
Por que você tá aí e eu aqui?
E por que o relógio gira sempre no sentido horário?
E já que é noite, por que nem todos dormem pra acordarem amanhã e se verem nas praças, se toparem no bonde, dividirem o mesmo café?
Por que você não está aqui e eu aí?
Por que tudo demora quando se quer pressa?
E se tudo na vida tem resposta mesmo
Me diz por que eu assim?

(Darla)

quarta-feira, julho 7

Alice estava deitada no campo de flores
Procurava respirar devagar,de forma ritmada
Tentava com tanta dedicação, mas um reloginho dentro dela batia insistentemente:
Tum tum
Tum tum
Não podendo mais ignorar aquele som, curiosa que era, perguntou com autoridade:
- Ora, ora coraçãozinho, por que está tão agitado aí dentro mim? O que quer afinal?
Alguns minutos e nada de resposta. E nem teria. Coração não fala, coração sente e ela sabia o que ele sentia.
Amor.

Amor! Ela se repetia. É amor!


(Darla)

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