domingo, fevereiro 21

sexta-feira, fevereiro 19

Pensamento alto

Discorríamos sobre o estar ou não no mundo, sobre o estado de espírito dos que não se conformam e que relutam a aceitá-lo e que procuram, a si ou aos outros poucos iguais que andam errantes por aí, vestindo suas calças, seus chapéus e seus sorrisos divergentes que deixam qualquer um inebriado, encantado, apaixonado ou em caso de nenhuma das alternativas anteriores, ao menos, intrigados, ou melhor dizendo, incomodados com seu jeito de viver no mundo sem viver.
Ah, a falta de lugar no mundo! Depois de um certo número incerto de procuras frustradas, eis que chegam à conclusão fatídica de que não pertencem a ele. 
Questionados e desafiados quanto à verdade creditada pelo senso comum de que é impossível viver no mundo sem estar nele, estes seres elevados inspiram, olham em volta e sem poder trazer pro lado de cá aquele que pertence ao lado de lá ou daí [sei lá], pensa alto: É, é possível.
Uma outra constatação: seres lunáticos, que aqui significam estes ‘não-moradores’ do mundo, se atraem e se entendem e naturalmente se comunicam. Natural como beber água quando se está com sede [e como isto é bom, não é?!]
É isso. Foi só um pensamento alto de quem não tem lugar no mundo.
Conterrâneos e apreciadores são bem vindos.


[dedicado aos participantes de uma conversa de bar’ e a uma contadora que diz gostar, assim como eu, de pensamentos altos]

(Darla)

quarta-feira, fevereiro 17

Restos do carnaval [os meus]







[Tirinha Ricardo Liners]

Acho que não havia percebido de forma tão intensa antes a beleza de um céu negro
Remeto-me sempre ao azul, aquele púrpura, cheio do brilho do sol e das nuvens branquinhas
Mas nesta noite, da copa das árvores, cortando a estrada poeirenta que rasga o verde quase intacto, estava ele, o céu negro mais lindo que poderia imaginar ver

E eu que estava com medo de enfrentá-lo, de me meter naquela noite,
Quando me vi coberta pelo manto de estrelas diante do meu menino de asas, ahhh!
Agradeci estar viva
E sorri no meu resto de carnaval como Clarice no seu.

“Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.”

(Restos do Carnaval in Felicidade Clandestina - Clarice Lispector)

(Darla)
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