quinta-feira, abril 21

Sobre o que se tem preso na garganta

Olhou pra dentro e procurou o que poderia ser dito.
Encontrou desabafos, encontrou lembranças, encontrou vontades e desesperos e grandes vazios e campos floridos também e encontrou sonhos novos e esquecidos, dores na barriga e na cabeça, encontrou desilusão e esperança, enfim, encontrou uma colcha de retalhos, então resolveu se aquecer nela e dormiu.
Faz frio no caminho pra casa.

(Darla)

sábado, abril 2

Sobre negligência

Que me perdoem aqueles a quem amo e que não ligo, não escrevo, não mando notícias.


Perdoem os dias não divididos, os abraços não dados e os cafés não tomados no dia frio na livraria da cidade.


E me perdoem por estar sempre invisível mesmo querendo falar um oi e dizer como vocês são importantes e como sinto sua falta.


Perdoem-me caros amigos. Os da escola, do antigo trabalho, dos blogs, da net, das afinidades descobertas ao acaso, da família, dos que dividem ou dividiram a mesma história. Penso em vocês e sempre penso no quanto gostaria de vê-los e conversar... mas sou sempre eu e minha velha negligência.


E agora, que o coração aperta de saudade, digo que talvez, infelizmente, a negligência permaneça, então só me resta pedir perdão por amá-los no meu silêncio.

(Darla)

terça-feira, março 29

Impressão

Talvez você veja uma chama iluminar o canto, solitária, aquecendo a si mesma.
E ouça o silêncio que de tão alto, é companhia onde vazio vira aconchego...

Tantos em volta, horas tão corridas, rodas e homens e suas máquinas de fazer dinheiro e amigos.
E naquele peito palpitante, o par de engrenagens se atritando, consumindo ferro, mastigando dentes, engolindo a velha vontade de ir embora e de ser passarinho e pousar num alto cume ou na mão do dono e ser guardado, sobretudo no inverno.

O chão é duro para quem pisa leve e brotam bolhas em quem anda calado.
Alguém que só queria ver flores da janela e respirar paz pelas manhãs e saber sua identidade,encontrar sua digital.

(Darla)

quinta-feira, fevereiro 3

Aqui dentro

Passei pela roleta central
Fingi ter pressa
Contei os minutos no relógio[tic tac]

Saciei a fome
Esfreguei o sono
e ainda apertei os olhos pensando: "Ela não está aqui"

Um momento
e um risco de vento
Os olhos impregnados daquela essência sonhadora a me fitar

Graaaandes, de doer a alma
Sedentos por minha mão estendida a dizer:
"Eu vou te dar uma chance"

Engoli o nó da garganta
Regurgitei o doer do abandono
Guardei-me na falta conformada
Abracei o que a vida me era
e segui, com o pisar duro, forjado


Ela ficou pra trás
O mesmo olhar de insistência


Eu segui
E eu também fiquei por ali, no caminho
Esperando que eu me desse mais uma chance
Que deixasse a essência viver e vencer.


(Darla)


segunda-feira, janeiro 31

O que corre na veia

Proibi-me a lágrima
Esta que a cada instante vem à janela da alma querendo despertar.

Sufoco-a, nego-a
Preciso mudar
Desejo crescer.

Porque amor pra mim
[Ele bem sabe]
é o que me faz viver.


(Darla)

Manhã na casa [2]

Queria ser lua, como aquela que banhou meu leito em 23 de janeiro,
Como aquela que abraça o Pão de Açúcar e beija o mar de Botafogo.

Naquela noite e hoje, quero mais ser lua e menos sol,
Ela me pareceu mais serena, mais paz, mais sua...


(Darla)

Manhã na casa [1]

"Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço. E que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão."

O vento sopra diferente, os passos são novos, horizonte mais amplo...e ela aparece insistente, no mesmo lugar, ali, sentada sob a mesma janela, a que dá pro mar...
Ah, essa vontade de ir embora...o que fazer dela...


(Darla)

sexta-feira, janeiro 21

depois da espera

Há um suspiro no ar 
De alívio [talvez]
de ansiedade [do novo]
De vontade e até paz

Asas se abrem
[grandes]
Ensaia-se o vôo
Abre, toma impulso e vai
Como corça...

E ela deseja e quer, sim ela quer...

Darla

sábado, janeiro 8

Sobre ser humano

O telefone tocou no serviço de telemarketing: Trimmm

-Suporte técnico, boa tarde?

-Boa tarde.- soou uma voz fina do outro lado da linha.

-Como posso ajudá-la?

-Preciso de suporte.

-Pois não. A senhora pode me dizer qual o problema na sua conexão.

-Não há problemas na minha conexão, eu só necessito de suporte.

-Mas se não há problemas, por que precisa de suporte?- perguntou intrigado o atendente.

E daí, nos minutos seguintes seguiu a resposta que até agora ecoa nos ouvidos do ex-atendente de telemarketing:

-Preciso do suporte das idéias bem definidas, do balançar afirmativo da cabeça do ouvinte, do aperto de mão, do suporte pra subir as escadas, pra pegar o livro na estante , mas sobretudo, de suporte no amor. Por isso estou ligando. É mais ou menos como quando a internet cai e a gente liga pra empresa pedindo o reparo ou quando pega umas aulas extras pra aprender a matéria direito e passar de ano. Suporte no amor. É como se sentir acompanhado mesmo estando sozinho, é telepatia, é saber antes de se falar ou pedir...

Um silêncio prolongado e o atendente respondeu:

-Perdão senhora, mas não posso ajudá-la.

Depois um novo silêncio, o tumtum de final de ligação e minutos depois um pedido de demissão.

Quando questionado sobre do porquê, antes de ganhar a calçada da rua, o ex-atendente balançou a cabeça inconsolável e disse:

-Eu não dava suporte.

(Darla)
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