terça-feira, dezembro 21

Tentando definir...

A gente ia juntando umas pedrinhas
Aqui e ali [mais uma]
Fomos construindo um castelo, de príncipe e princesa [como tem que ser]
E pegamos umas pra ver o quanto elas podiam pular no lago [e como era divertido!]
O sorriso ganhava todas aquelas tardes de primavera
Risos pequeninos misturados ao assobio doce do vento cortando os crisântemos.

Molhávamos os pés até o tornozelo e ficávamos mergulhados nas histórias um do outro, dos contos fantásticos que éramos capazes de criar a cada nova chance de encontro entre a ponte de madeira e o pátio.

Dois pequeninos felizes com a compreensão estampada no outro e o sorriso sincero da amizade.


(Darla)

* Hoje, em especial, aos meus amigos queridos, Leo e Vivian.

sábado, dezembro 18

Sobre não se estar só

A gente sai pisando junto por aí
Dividindo o mesmo banco, o mesmo palco, o mesmo sol
E carregando os sonhos um do outro
Pra ficar mais leve do peso a que o próprio desejo nos conduz

De mãos dadas vamos pinçando as pistas pelo chão
E semeando nas nuvens os pensamentos de céu blues.

(Darla) 

terça-feira, novembro 30

Saudade daqui

Ela discorreu sobre pesca e sobre o quanto queria ver peixes coloridos voando sobre sua cabeça
E ele disse que havia visto muitos no seu último mergulho no céu e que os fotografaria da próxima vez e que a presentearia

Ela falou então do sonho da horta e da broa e da bicicleta parada na porta e ele disse que isto é bom, mas que praia ainda é melhor, porque se as pessoas te cansam, ainda haverá o mar

Então ela disse que sentia medo e que também sentia cansaço e que se sentia perdida e ele disse:

_Tudo bem amiga, eu te entendo, somos dois.

[Eu e meu amigo imaginário]

(Darla)

segunda-feira, outubro 4

Um ano do dia 27

"Palavras não descrevem os olhos, as bocas, os braços e abraços, nem a alegria até então desconhecida, surgida de um (re)encontro. Pra quem, há dias atrás, refletia tanto as obras do acaso, hoje compreende que realmente, o acaso não passa de um simples nada, e acredita em algo bem maior que isso. Que levará a um próximo reencontro, sem sombra de dúvidas. Mas até lá, todas as músicas cantadas estarão na mente, todos os sorrisos que ainda não acreditavam no que estava acontecendo, todos os olhares que transpareciam toda a magia do momento."

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, outubro 1

"Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de fruta em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e o do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você."

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, setembro 30

O que você quer?
um coração? um cérebro? coragem? ou só quer mesmo voltar pra casa?
O que você quer??
amar pra lembrar que tem um coração? estudar pra lembrar que tem um cérebro? luta pra lembrar que tem coragem? ou quer sair pra saber como é voltar?

O que você quer afinal?
Sonho, eu acho.

"Certa vez eu ouvi alguém contar
Que além, sobre o arco-íris há um lugar
Onde o céu, sempre azul
Nos faz sonhar
E a gente consegue os sonhos realizar

Por isso quando a chuva
Tamborila na vidraça da janela
Eu vejo um arco-íris na esperança
De encontrar a região
Tão bela

Onde o céu sempre azul
Nos faz sonhar
E a gente consegue os sonhos
Realizar."

(Over the Rainbow)

(Darla)

 

quarta-feira, setembro 15

O que você tem cosido?


Ela foi cosendo e dizendo:-olha, é assim que se faz
Passa por aqui, pega, abraça, passa, volta e segue

E o desenho ia se formando.

Perguntei se é sempre assim
E ela disse: -sempre nunca é, mas a agulha aprende o caminho e te ajuda, logo até de olhos fechados se faz flores
E perguntei:-dói o dedo?

-Espeta de vez em quando, como tudo na vida, mas no final tenho flores e pássaros e nomes e sorrisos gratos e corpos quentinhos nos laços formados,  não acha que vale à pena?

-Viver é como coser então? -perguntei

-Viver é coser querida.

(Darla)


* co.ser
v. 1. Tr. dir. Ligar, unir com pontos de agulha; costurar. 2. Pron. Consertar ou remendar sua própria roupa. 3. Tr. dir. e pron. Encostar(-se), unir(-se)

segunda-feira, setembro 13

Uma vez li um livro de título “Fazendo nada” que falava sobre um menino, Huguinho, que claro, não fazia nada. Ao final do livro a moral pra mim foi: coitado do Hugo.

É, já que você não faz nada, você pode fazer tudo pra tudo mundo, esta é a lei.

Quem não faz nada pode ir ao banco ou supermercado, ou ainda, farmácia, na hora que alguém pedir ou mandar, afinal: Você não faz nada.

Os fazendo nada que dormem um pouco a mais então, nossa, ganham uma cruz de presente para se prenderem.

Você não faz nada, mas paga as contas, organiza as coisas, preenche os canhotos, varre, limpa, vai e volta...ué, que fazer nada é este afinal? E olha que você pode vender ou dar lições neste meio tempo, pra lá e pra cá e ainda sim vão dizer que você tava passeando ou que seu trabalho não é trabaaalho, já que trabalho pro povo é: todo santo dia de 8h às 18h com 1 hora de almoço. Qualquer grande variação nesta regra o torna um grande fazedor de nada.

E se você ainda estuda é obrigado a ouvir: fulano estuda tanto né? Mesmo que seja mestrado.

Enfim, a conclusão a que cheguei é que quem não faz nada, faz muito mais, e pior, para os outros.

Quero minha carteira assinada e meus direitos trabalhistas. Profissão?  Fazedor(a) de nada (e que nada difícil este).

(Darla) 

sexta-feira, setembro 3

O coração da Darla

Meu coração às vezes dói e fico pensando se poderia se tratar de alguma patologia de nome estranho,longo,de radical -algia , talvez.
Mas é dor que o analgésico da tal Associação dos Analistas de Sistemas não resolve, é dor com vontade própria, que pensa e que fala a hora que bem quer, no lugar que quiser, mesmo quando você quer silêncio pra ouvir aquela última fala do ator. 
Droga.
Ele às vezes dói como se triste, sem estar, como se faminto tendo o que comer, como que louco por um grito quando se dorme. 
Ele dói quando se vê longe do divã, longe do ouvido, incompreendido. Dói na sua diferença, na sua indiferença, no seu jeito meio assim, meio assado, que faz ele ser quem é e pertencer a quem pertence.
Deveria ter ocupado outra residência. -poderia pensar ele.
Um pouco mais espaçosa e sem tantas flores em jarros e papéis de parede do tempo da vovó. Mas me encantei com seus olhos, caí por aqui, fui ficando, me envolvendo e agora, que faço eu, senão suportar?
Meu coração às vezes dói pela sede de ser menos coração neste mundo onde quase não se lembram da existência deles.

(Darla)
Eram 5 pedrinhas, das mais pequenas, embrulhadas no lenço bordado a mão e guardadas no bolso como amuleto.
5 pessoas queridas, 5 sentimentos preferidos, 5 lembranças melhores, 5 músicas gostosas, 5 pratos prediletos, 5 desejos mais secretos.

Havia dias em que o coração pulava no peito, louca pelo momento íntimo em que abria o embrulhinho com cuidado e as espalhava sobre a colcha de renda.
5 pedrinhas soltas como estrelas sobre o céu, livres.

Tocava-as com carinho, apertava-as nas mãos e os olhos juntamente e pensava que sua felicidade residia nas coisas mais simples, como num sorriso gratuito e despretensioso a qualquer hora de um dia qualquer da semana.

(Darla)
[Tirinha Ricardo Liners]

segunda-feira, agosto 23

Porque gosto

Era o mesmo campo de tulipas amarelas de sempre.
tão lindo...

Com aquela árvore à esquerda, de tronco largo, raízes fortes, rodeada de dentes-de-leão.
E claro, céu azul, como não seria! E um cheiro de alegria e de crianças, aliás, risos ao longe delas, risos gostosos de quem corre entre as flores.

E rodopiei, correndo muito, os braços altos como que abraçando o vento, que era leve e as sementinhas aladas daqueles dentes-de-leão me rodeavam e dançavam comigo e sorrimos e dançamos e sentimos os pés guardados.

A mãe gritava que havia café e broa quentinha e todos corriam em volta da casa antes de sossegar e como era gostoso de ver.

Esqueci da música: flauta, assobio...algo assim...do moço querido, claro. Mesmo quando não penso, penso nele.

Tulipas amarelas por toda parte e céu azul piscina como gosto...

Abri os olhos e o tapete cereja me acolhia e da janela a lua cheia me lembrou biscoito de aveia e mel...que delícia!

Namastê

(Fim da aula de yoga de hoje ;)

(Darla)

terça-feira, agosto 10

Hoje ela se olha e não vê mais como antes.
Não vê mais aquela menina, pelo menos não somente.
Ela olha e vê unhas pintadas,
olha, e vê uma malinha já cheia de coisas legais que ela sonhava, mas não imaginava tocar.
E se as unhas pintadas nem são tão novidade assim há algum tempo, hoje elas anunciam mãos novas, que deslizam as costas e afagam o cabelo do amado, que riscam o quadro verde, que assinam os novos planos, que folheiam a leitura espiritual diária e que claro, escrevem como sempre.
Um corpo ainda menina, vestido rendado, sapatos vermelhos que a fazem lembrar Dóroti e muitos porquês e respostas mirabolantes pra tudo, como Alice.
Estes pés hoje não andam mais tão sozinhos, embora encontrassem sempre um par de all star amigo em filas de teatro, fios de telefone, aulas de cálculo, rabiscos avulsos e diários. Estes pés agora descansam e andam sobre outros tão sonhadores e idealistas, tão crentes, espirituosos e movidos quanto eles.
Pés e mãos de alguém que mistura letras, sons e alma e que quando chega aos ouvidos dela, faz seu coração dar pulinhos de alegria e logo o sorriso ganha todo rosto de lua cheia, iluminada pelo sol dele.
É, hoje ela se olha e se vê mais ela por ser tanto dele.

(Darla)
 

domingo, agosto 1

Observo-a há tanto tempo...
Lembrei-me dela atravessando a rua vazia, olhando para as janelas, buscando algo, ansiosa com coração palpitante e desejoso até que um pássaro pousou nela.
E me lembrei dela lambuzada de doce de leite, coberto com cristais direto do pão de açúcar.
E me lembrei também do céu azul piscina que anunciava uma noite ímpar.
E das gotas de chuva aqui e ali e dos sapatos vermelhos atravessando a rua cinza e os tantos ônibus rumo à brisa do mar.
Lágrimas inexplicáveis, que talvez saíram porque queriam saber o que é molhar um ombro e não um travesseiro.
Fogos de artifício, vento no rosto, água gelada de cachoeira, arroz com brócolis e suco de morango com laranja...
Ela, a figura dela, me passou como um filme acelerado na mente e me lembrei dos instantes que a vi feliz e fiquei feliz de ver seu sorriso.
Lembrei-me dela também pequena, no corpo de criança, louca pra saltar a janela e criar asas como borboletas e me lembrei dos desfiles cívicos que eram tão importantes e até senti saudade daquela cabecinha sonhadora.
Lembrei dos tropeços, dos tempos que ouviu tantos conselhos e se perdeu e tentou se achar, se perdendo e se achando. Quero tanto que ela se encontre mesmo.
Ela me instiga porque me confunde, por isso observo-a tanto.

(Darla)

quinta-feira, julho 22

Oi amor,

Ligo pra que o instante não mais me sufoque e pra que de longe me afague o rosto em pranto e aqueça o coração que anda perturbado e cambaleante.

Há dias não chove na cidade, o chão anda seco e em mim, flores clamam por água (disseram-me um dia que eu era uma flor de espécie desconhecida - concorda com este disparate? hummm, só porque preciso de sol, água, e todas aquelas coisinhas de bactérias e minerais - que aprendi na aula de biologia - pra sobreviver?)

Mas enfim, ligo porque tua voz sopra em meus ouvidos mais uma chance e restaura em mim a paz, a vontade e a fé, esse sentimento que ressuscita mortos. Perto de você me sinto mais perto dEle.

E se tua tristeza me comove, ela mesma fala pra meu espírito se fazer forte pra te fazer feliz, pois não suporto vê-lo desassossegado. Nasci com o dever de te cuidar. 

Mas como também nasci eufórica e cresci agitada, troco por vezes pés por mãos, tropeço nos cristais da sala e no fim quem me cuida é você. E eu nem gosto de receber seus mimos e sorrisos... ;)

É, ligo pra quase telepaticamente dividir com você o que se passa por dentro e pra falar em silêncio. E nessas e outras, dou a sorte de ouvir que a lua está iluminando lindamente a grama do quintal (pude até imaginar).

Liguei porque só você sabe contar as histórias de forma tão detalhada a ponto de eu ver a cena (melhor do que ler livro) e porque no fim do papo pesado sempre vem a frase celebre que faz tudo ficar leve.

Enfim, ligo porque mesmo que eu esteja no meio de um furacão, você é minha certeza junto a quem te deu pra mim e a única conclusão que resta é, que se sou Alice, você só pode ser o próprio País das Maravilhas.

(Darla)

sábado, julho 17

Andança

Ao longe, as catedrais badalavam seus sinos
E ao longo da rua havia gente perambulando, vendendo e comprando rendas, homens e amendoins torrados, meninos com peões, sandálias subindo as ladeiras, saltando as poças, esperando,
buscando.
Os sinos tilintavam em seus ouvidos e os dentes acompanhavam a melodia no ranger,
As narinas dilatavam na expiração e o vento vez ou outra agitava o vestido.
Então fechou os olhos como quem dorme, depois como quem chora, depois como quem ora, depois como quem conclui.
Concluiu, mexeu os lábios pra um lado só, daí mordiscou o inferior.
Falou algo, mas não quis ouvir por mais que ela quisesse que fosse ouvido.

Daí pensou, seguiu, parou, olhou pra trás, pra frente, abriu a porta e se foi.
Tive pena de tudo quanto ela era e que não é. Muita pena.

(Darla)

sexta-feira, julho 16

Fotografia de Alice

Tomou nas mãos aqueles pequenos retalhos e passou a uni-los em oração.
Cada xadrez, ligado a um fio que ultrapassava círculos e contornava pequenas flores, formava um jardim.
Achava-se cheia dos retalhos, das pequenas miudezas que mal enchiam a xícara, faltava-lhe sempre o chá todo e faltava-lhe uns amanteigados, uns beijinhos de côco e sonhos açucarados (por mais que ela os produzisse toda noite).
A toalha de mesa costurada a mão já tinha cauda, que corria todo o salão e a contornava os ombros e no reflexo do chá ainda os mesmos olhos marejados e desejosos,
Marejados e ansiosos,
Marejados e infantis, esperançosos por amoras frescas, casadinhas e suspiros.

(Darla)

sexta-feira, julho 9

Me responde só isto
[Se tudo na vida há de ter resposta]
Por que você tá aí e eu aqui?
E por que o relógio gira sempre no sentido horário?
E já que é noite, por que nem todos dormem pra acordarem amanhã e se verem nas praças, se toparem no bonde, dividirem o mesmo café?
Por que você não está aqui e eu aí?
Por que tudo demora quando se quer pressa?
E se tudo na vida tem resposta mesmo
Me diz por que eu assim?

(Darla)

quarta-feira, julho 7

Alice estava deitada no campo de flores
Procurava respirar devagar,de forma ritmada
Tentava com tanta dedicação, mas um reloginho dentro dela batia insistentemente:
Tum tum
Tum tum
Não podendo mais ignorar aquele som, curiosa que era, perguntou com autoridade:
- Ora, ora coraçãozinho, por que está tão agitado aí dentro mim? O que quer afinal?
Alguns minutos e nada de resposta. E nem teria. Coração não fala, coração sente e ela sabia o que ele sentia.
Amor.

Amor! Ela se repetia. É amor!


(Darla)

quarta-feira, junho 30

Dos pecados interiores

Sim, eu sinto.
E sinto como quando a chuva de verão toca o telhado de zinco
Ou como a bola que invade o gol
Ou como a foice que rasga o campo

Sinto como a pedra no sapato no caminhar obrigatório
Como a sede na garganta do que quer um copo d’água

Sinto quando ele vai e quando ele volta
Ou quando fala ou não fala
Ou quando sei do outro que precisa dele, ou que o ama, assim como eu

Sinto um sentir que queria que fosse só meu

Somente meu, de mais ninguém.

(Darla)

segunda-feira, junho 28

Sobre o sentir

Apertou os olhos para suportar tanta cor.
Cores que respiravam enquanto a espreitavam contra a cadeira, onde se plantara.
Apalpou os bolsos, procurou os confeitos da noite anterior, restos dos minutos que queria parar, mas os bolsos estavam furados (os dias passados).

Fitou-se então e quis entender (como todos os dias) como fazia pra ser inteira quando metade, ou como fazia pra sua metade parecer inteira.

Era sempre assim. Passado um dia em reclusão, ela com seus pensamentos, com suas atividades rotineiras, com o ir e vir absolutamente previsíveis: café, almoço, janta, cama, leituras, contas, afazeres...(suspiros); era só ficar um dia assim e já vinha aquilo de novo, a coisa que aperta o peito, o semblante da introspecção com a música de fundo de dias tristes.

Não queria ser assim, mas é. Queria ser sempre como farinha e açúcar que se ligam com ovo e manteiga. Um bolo inteiro, fofo, quentinho e queria ser assim pra sempre, sem pedaços, sem até amanhã ou até logo, um inteiro que se divide se multiplicando, entende? (Sempre foi boa em cálculos, mas preferia as letras).

Balançou as bandeirinhas, comeu brigadeiro na colher, fechou os olhos um pouco, mas no final era ela falando pra alma dela pra se aquietar um pouquinho pra chegar o novo dia, as novas cores e a hora de se ver inteira como massa de bolo (juntinha).

(Darla)

quarta-feira, junho 2

Olhou através de uma janela grande e profunda
Daquelas que dá pra ver muita gente, ler muitas placas perto ou longe, ouvir sons de casas, conversas, rádios, carros e crianças, mas pousou sobre os olhares.

Diversos, de tantos gostos, de tantas cores, pouco azuis, muito azuis, novos, nem tão novos assim, de línguas diversas, olhares diversos.

Mas num especial, viu um pássaro pequeno sobre o telhado grande. Era vida sobre o morto.

E mais uma vez, numa tarde fria, se viu salva.

Pra quem quiser, tá aí:



quinta-feira, maio 27

História Trágica Com Final Feliz



"Era uma vez uma menina cujo coração batia mais rápido que das outras pessoas..."

Tinha alma de pássaro, logo, coração de pássaro.

Um dia voou e se foi, 'mas ninguém se importaria de partir assim'.

Há os que andam muito, muito rápido; os que respiram muito, muito rápido e profundamente; os que falam, cantam e assobiam sem parar. Almas desencontradas por aí, perdidas? Talvez achadas.

Gostei desse vídeo, talvez porque me identifiquei, talvez porque é triste mas feliz na essência, talvez porque seja simplesmente simples.


"E Alice perguntou ao gato: 'Que tipo de gente vive aqui?'
'Louca'- disse ele. 'Mas não quero me encontrar com gente louca'.
'Oh, não se pode evitar, todos são loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.'"
 


segunda-feira, abril 26

Era uma vez...

Era uma vez...

A vez.
A vez de se saber o que há.

O que há menina?



O que há com esses olhos fugitivos, de ressaca,

Essa boca sempre amarga (sempre?),
Esses dedos delirantes, dançando no ar,
Os pés pontudos, cravados na terra, trépidos, cambaleantes e ansiosos?

Vejo-a envolta no manto dos cabelos, protegendo-se do sol que queima, da lua que mostra, da chuva que ensopa, do vento que resseca...

Vejo-a com as mãos unidas, queixo no pó, cílios cerrados e oração contínua ao que você crê.

Pedes o quê?

Perdão? Mas perdão por quê?
Se nem existes ao certo.

Licença?

Mas teu passo aqui é valsa.

O quê?
Socorro?


Ahhh...todos nós pedimos.


(Darla)


[Tirinha Ricardo Liners]

domingo, abril 25

Vontades [1]

Vontade de tirar as palavras um pouco daqui e levá-las lá pra fora.

[Pra pegar um sol ou chupar laranja...quem sabe?!]

sexta-feira, março 26

Janela

Linha 9, coluna 2 (endereço de quem observa do prédio matriz)
Ruas, carros, árvores, outros prédios, pessoas...
Pes-so-as...

Ela vinha da terceira pista, do ponto de onde partiu em alta velocidade mais um dos ônibus vindos de tantos lugares.
Parecia tranquila. Calças jeans, tênis, camiseta, a bolsa, o cabelo nos ombros, os óculos...a criatura das mais comuns, mas foi nela que me fixei.
Atravessou uma, duas, e a terceira pista? Um sinal enorme e demorado a interpelou.
Ali começou a observação.
Olhou, coçou, bateu o pé de forma ritmada, tocou na boca, na orelha, olhou o sinal, os carros, daí rodou em torno do próprio eixo, pousou uma das mãos sobre o quadril e nada, sinal vermelho.
Estava ansiosa por chegar do outro lado, como quem deseja nadar no mar, um mar de gente e de coisas a fazer.
Olhou, pensou, deveria ficar verde em segundos, mas ela não aguentou. Correu, costurou entre carros, ganhou a calçada oposta e voltou à tranquilidade inicial como se nada tivesse acontecido e se perdeu entre a gente e sob a marquise que me impediu de continuar.

Número 126- Rodoviária. Era o endereço agora. Preciso voltar pra casa. Preciso?
O menino surdo gesticula com sua mãe que tinha um cansaço nítido no rosto. Ele sorria como um louco, acho que porque não ouvia as buzinas.
A moça ao lado olhava o relógio, resmungava e cochilava. Os senhores que entravam com o cartão da gratuidade se enroscavam na roleta e a cobradora impaciente os fazia passar, atrás de mim um homem  sério que eu observava pelo vidro frontal, à frente o motorista que opinava sobre a polícia pacificadora no morro.
Mas nada melhor que o menino jogando bola sozinho numa quadra suja e quase abandonada que vi através da janela. Lembrei do André.

Adoro observar a vida lá fora.

(Darla)

quinta-feira, março 18

Sob o olhar de Alice [3]


Encontrei Alice sob a árvore,
Parecia-me pensativa, dedilhando a bainha do vestido como quem tem um rosário nas mãos.
O olhar baixo, mas longe, e olhos que se fechavam quando vez por outra ela levantava o rosto e suspirava.

Alice às vezes me parece tão carente, das carências que não se cobrem com presença.
Chamo de carência de si mesma, uma eterna procura interior pelo que ela pressente ser.

Ela pergunta:_ Comi uvas por toda a tarde, e agora, como faço pra tirar este entalo?
Ela culpava as sementes de uva que temia em engolir para nascer dentro de si um pé só pra ela.

[O vento: _ Pobre Alice...Rica Alice...]

Seus olhos sempre brilham uma esperança,
Seus braços parecem sempre prontos pro abraço,
Seu sorriso, porta de entrada do amor.

[O vento: _ Tão doce e tão ácida...]

Alice tem grandes relíquias,
Retalhos sortidos que guarda na sua caixinha
E ela guarda com carinho, pois quer ter pra sempre, ela só sabe ser ‘pra sempre’.
Alice é intensa como poucas que já vi...
Como poucas...

Talvez seja por isso a carência,
Intensos não se fartam e nem acho mal nisso.

Alice recebeu um presente no último ano e desde então há um incontestável contentamento nas linhas da face e sinto eu, que a observo há tanto, que Alice tem mais força agora e nem quero pensar como seria ela sem ele.

Mas Alice, como Alice que é, espera algo mais, algo que vem de dentro, um alimento... talvez seja por isso que planta uvas no estômago, para se ver saciada.

Ela me viu a observá-la do canto do olho e me sorriu tão lindamente!
Acho que ela gosta de me saber ali, acho que ela se sente menos sozinha imersa nas estampas do vestido azul.

(Darla)

sábado, março 6

Ponto final


É, foi!

Quem me conhece mais profundamente deve entender a intensidade deste ‘Foi!’.
Foi difícil.
Não pelos cálculos e físicas e professores carrascos e provas e trabalhos...nada disso, quanto a isto, já estou vacinada.

O difícil por muitas vezes foi respirar, pois parecia que andava pelo caminho errado.
Volta e meia me procurava, perdida, no meio da vida, do mundo e só queria sumir...

É, mas esta nunca é a melhor saída e comigo não foi diferente.

Foram tantos momentos de conversa interior e com o Barbudo (apelido novo e carinhoso, influência de um grande presente de Deus).
Às vezes me sentia como que me traindo ou machucando, mesmo que sem querer, como quem se corta ao descascar uma laranja.
Andei, tentei, fui, voltei...

E em todas às vezes encontrei alívio no que mais amo e para aquilo que realmente nasci: escrever. Não se trata de escrever bem ou mal, se faço isso melhor que ensinar ou fazer contas ou projetos, trata-se de amor.

Amo, amo e amo e disto não tenho dúvida.

Estou feliz por ter conseguido, isto é prova de superação e de que os planos de Deus verdadeiramente são maiores que os nossos. Acredito sim que posso ser muito boa e fazer o bem na profissão que me formei, sim, acredito que posso fazer mais com ela. Educar é outra coisa que este curso me permitiu exercer e vi como é bom ter olhos brilhantes em sua direção enquanto ensina. Então, como me disse um velho amigo uma vez: '_ Darlinha é a engenheira mais humana que já conheci!'
É, e é isso que desejo ser.

É...foi!

[Obrigada aos meus pais que seguraram as pontas por esses 7 anos, à Raquel que ouviu e apostou em cada novo plano mirabolante, à Fernanda que suportou meu choro e alimentou meus sonhos, aos meus amigos da ETPC que estão e estarão sempre por perto, em especial ao meu caro Motoca, à minha cousin que acreditou em mim e quando retornei me apoiou com matérias, cadernos e afins, aos amigos da faculdade: Paixão, Marcão e Alisson (os do começo) e aos do fim, sem os quais não teria conseguido: Vivian e João Paulo e todos que acreditaram e me fortaleceram, sem mesmo saber que o faziam (são tantos) e ao meu presentinho André, que chegou no finalzinho desta caminhada,  mas que me sustentou nos momentos decisivos, quando eu mais precisava, e que me entendeu e que me entende e que fez tudo isso ter um gosto muito mais doce.]

(Darla)


segunda-feira, março 1

Três

Um dia, numa conversa ao pé do ouvido, guardada na saudade companheira de quando ele não está por perto, disse-lhe algo parecido com o que agora encontro nos rabiscos dela:

“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”

[Clarice Lispector]

 Três coisas para as quais eu também nasci.

Perfeita definição Clarice, perfeita!

domingo, fevereiro 21

sexta-feira, fevereiro 19

Pensamento alto

Discorríamos sobre o estar ou não no mundo, sobre o estado de espírito dos que não se conformam e que relutam a aceitá-lo e que procuram, a si ou aos outros poucos iguais que andam errantes por aí, vestindo suas calças, seus chapéus e seus sorrisos divergentes que deixam qualquer um inebriado, encantado, apaixonado ou em caso de nenhuma das alternativas anteriores, ao menos, intrigados, ou melhor dizendo, incomodados com seu jeito de viver no mundo sem viver.
Ah, a falta de lugar no mundo! Depois de um certo número incerto de procuras frustradas, eis que chegam à conclusão fatídica de que não pertencem a ele. 
Questionados e desafiados quanto à verdade creditada pelo senso comum de que é impossível viver no mundo sem estar nele, estes seres elevados inspiram, olham em volta e sem poder trazer pro lado de cá aquele que pertence ao lado de lá ou daí [sei lá], pensa alto: É, é possível.
Uma outra constatação: seres lunáticos, que aqui significam estes ‘não-moradores’ do mundo, se atraem e se entendem e naturalmente se comunicam. Natural como beber água quando se está com sede [e como isto é bom, não é?!]
É isso. Foi só um pensamento alto de quem não tem lugar no mundo.
Conterrâneos e apreciadores são bem vindos.


[dedicado aos participantes de uma conversa de bar’ e a uma contadora que diz gostar, assim como eu, de pensamentos altos]

(Darla)

quarta-feira, fevereiro 17

Restos do carnaval [os meus]







[Tirinha Ricardo Liners]

Acho que não havia percebido de forma tão intensa antes a beleza de um céu negro
Remeto-me sempre ao azul, aquele púrpura, cheio do brilho do sol e das nuvens branquinhas
Mas nesta noite, da copa das árvores, cortando a estrada poeirenta que rasga o verde quase intacto, estava ele, o céu negro mais lindo que poderia imaginar ver

E eu que estava com medo de enfrentá-lo, de me meter naquela noite,
Quando me vi coberta pelo manto de estrelas diante do meu menino de asas, ahhh!
Agradeci estar viva
E sorri no meu resto de carnaval como Clarice no seu.

“Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.”

(Restos do Carnaval in Felicidade Clandestina - Clarice Lispector)

(Darla)

domingo, janeiro 31

Sobre fé














[Tirinha Ricardo Liners]

Ele foi sussurrado em meu ouvido na tarde de céu azul
A previsão do imprevisível

Uma noite, um olhar, uma conversa, um beijo
E tudo estava mudado,
transformado

Pousou em meu ombro e despertou minha alma cansada

Guardou-me em suas costas
O beijo plantado na dobra da nuca
E a alegria de se saber ímpar, de se saber completa de verdade

Ele me disse que me presentearia
Disse-me que o melhor Dele ainda estava por vir
E eu acreditei...

Bem-aventuradas são as almas crédulas.

(Darla)

sábado, janeiro 30

Introspecção

 
A menina fechou a porta e não quis se despedir,
mas eu lancei um olhar fixo, sério, como quem diz: é hora, a noite já vai alta e a menina precisa dormir.
Ela me lançou um olhar molhado.

Marcada pelas listras do vestido azul, sob o sol intenso que lhe fecha os olhos, os dedos saltavam as cores como quem pisa nas faixas pretas da orla.
Entranhamento frente a sua própria imagem, disforme no espelho d’água da poça formada pela chuva de minutos.
Um olhar de saudade, voltado aos pés, mãos e pele.

Revira-se e como que se procurando, caminha com os dedos sobre as curvas marcadas do vestido listrado, tocando as faixas roxas, pulando até o branco, o branco exposto, para se ver claramente.

(Darla)

segunda-feira, janeiro 25

O que aprendo com ele [1]








[Tirinha Ricardo Liners]

Ele me disse que facas não devem ser manuseadas como canetas com que se escrevem poemas. Disse isso pelo risco de me ferir já que as pego afoitadamente.
Facas são para cortar o pão e enchê-lo de manteiga e para tirar a lasca do queijo que se coloca dentro do mesmo pão quentinho às 5 da tarde e que nos rouba um sorriso de satisfação pela hora do café.
Mas canetas com que se escrevem poemas não fazem o mesmo?
Ora, para mim, caneta com que se escreve poema e faca com que se corta e recheia o pão é tudo a mesma coisa.
Uma pode ser ancestral da outra em que a caneta é o resultado da evolução da faca, ou vice-e-versa, ou melhor, talvez sejam primas de 3°grau. Eu mesma tenho vários e os descobri geralmente em festas de casamento ou formaturas de medicina em que se unem todas as gerações da família para comemorar e você descobre que aquele cara chato da escola era sangue do seu sangue. Afff...
Conclusão: Ele está certo, não devo manusear canetas com que se corta da mesma forma que facas com que se escreve.

(Darla)

sexta-feira, janeiro 22

Observação











Prefiro os sebos

Assim como prefiro roda de amigos numa mesa qualquer bebericando e rindo.

As livrarias com toda aquela gente com ar intelectual [não que coloque em xeque sua intelectualidade, mas me aborrece aquele olhar por cima, aquele toque sutil demais, aquele ar enjoativo].

Livros devem ser pegos, tocados e ensebados nas mãos suadas. E se têm marcas e se têm rabiscos é porque têm vida, é porque têm alma, de hoje ou de ontem, e que carrega histórias, mais do que as escritas: histórias confidenciadas.

Há gosto pra tudo, há quem goste de shopping, há quem goste de feira...

Quanto a mim, prefiro os sebos e ponto final.

[e alguém me perguntou alguma coisa?]

(Darla)

segunda-feira, janeiro 18

“Terque”


Engolidos pelo “terque”
São estes que vêm pela estrada com olhos cansados, passos na direção do fluxo e um só objetivo: conjugar o verbo “terque”.

O metrô passa cortando o vento: é preciso pular pra dentro e pra fora, é preciso agilidade.

O ônibus passa, o sinal não abre, ele se vai e tomados pela impaciência, respira-se o rastro da fumaça: é preciso acelerar o passo, é preciso não mastigar, não digerir e competir.

Prontos para a guerra: a guerra travada no trânsito, no trabalho, na calçada e dentro de si.

“Temquese” omitir palavras de amor, “temquese” ter o pé atrás, duvidar e desconfiar, “temquese” abster do crescimento dos filhos, da carência da esposa, dos amigos que só queriam um telefone seu, do sorvete na pracinha, dos pássaros que nascem e voam todos os dias, dos dias que passam e que não voltam.

Era uma tarde de domingo quando você se sentiu feliz e leve, então por que se preocupava com a cartilha de tarefas do trabalho da segunda?:a cada dia não basta seu mal?

Não se temque nada
A não ser, ser feliz!

(Darla)
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