sábado, novembro 28

A flor Liz

Eu queria ser liz
E se a pudesse ser
Seria a mais feliz

Seria como a fruta do conde
ou da condessa
Altiva em minha árvore particular

Cheia das pétalas reais
E do calor que lótus quando me viu nascer, me emprestou

Ah, como queria ser liz num céu pintado de guache bem azul e com potes de ouro em todo o arco-íris, colocados pelos braços dourados do sol quando atravessam as gotas de chuva
e ter sapatinhos de rubis feitos para meus pés

Fotografaria na cor de gris e faria marcas de neon.
Com papel marchê moldaria a mão.

E se fosse liz agora
Seria pura flor
Guardada ao peito de quem morre de amor
Ou do rapaz que visita a namorada moça
Cheia das rendas no vestido pinçado
Louca pelo beijo enamorado
e quiçá clandestino
na soleira da porta vigiada dos livros de Assis.

(Darla)
 

sexta-feira, novembro 27

Ensaio sobre a visão









Através dos olhos que me são como janelas
que conectam meu mundo aos outros mundos vi passar...

a mochila nas costas
o olhar de ombros
um dedilhar na lateral do corpo bem ritmado
[parecia ter música na mente]

fui atraída
eu e meu anseio pelo pensamento do outro
pelos segundos em que se pensa o inesperado, o surpreendente ou mesmo o óbvio esquecido

procurei me atentar ao contexto a minha volta e ignorar a joaninha que atravessava a rua
cheia daquela esperança que me foi atordoante

vi que haviam algumas nuvens que anunciavam chuva
espiei as horas no relógio da praça
uma buzina me lembrou a faixa
passos ao lado e os sinais de que outras vidas passavam

mas eu, ali, com um martelo batendo na fronte, olhos queimando sob a luminosidade do dia claro, o peito transbordante de um moço de asas e ainda sim, gritando por instantes a dúvida: o que ela leva na mochila?

até que o bonde da vida atravessou a rua
as páginas da leitura psicológica se fecharam
o vento se apazigou e junto dele o peito que batia forte uma curiosidade plantada firmemente

ainda consegui correr e tocar a alça da mochila, mas ela subiu sem olhar pra trás
E na minha mão o bilhete:

 
“Tenho 19 e uma mochila vazia”

 
De certa forma inexplicável, meu espírito se aquietou naquela tarde.

(Darla)

quinta-feira, novembro 26

Sob o olhar de Alice [2]


[sobre como estar no País das Maravilhas]

Falavam sobre o tempo
Como o céu parecia azul naquela tarde

A tarde deixava de ser comprida quando se davam conta do tempo
Mas o tempo se estendia se deitados sobre ela, de tal maneira, que estrelas nem eram vistas.

Riscando nas paredes os passos do encontro
se viram acordados no sonho dos olhos do outro
mãos encaixadas
remendando as vidas
agora entrelaçadas

a mão no dorso
as unhas cravando a linha da coluna
a boca pousada no pescoço

viram-se um, sendo o outro.

Sussurraram algo que não ouvi
Um sussurro velado
Íntimo
Algo familiar
Como uma música ouvida
Uma letra lida...
Que quase me pareceu uma previsão.

(Darla)

quinta-feira, novembro 12

Sob o olhar de Alice [1]

 
[sobre como estar no País das Maravilhas]

Ali
Abraçados sobre uma Abbey Road particular
A cidade sobre a cabeça
e o mar aos pés

O som do coração silenciado no peito do outro
Banhados pelo sol do improvável:

Ela nos olhos dele
Ele na boca dela.

[E o pássaro encontrou ninho e o ninho um pássaro para si]

(Darla)

segunda-feira, novembro 2

Que gosto tem?


Um sonho sabor doce de leite
coberto pela noite de uma quarta [tão boa quanto à primeira]
véspera de uma quinta [melhor que da Boa Vista]
com o sabor da fruta mordida cantada naquela música que eu acompanho de olhos fechados
e as cores das coisas tão mais lindas que antes estavam guardadas no forno da padaria
onde foi feito o sonho doce de leite que agora provo e me lambuzo.

Açúcar cristal soprado pelo Pão de Açúcar cobre meu sonho menino
que parece ter sido moldado por dedos cor de rosa em segundos particulares da madrugada de quando foi sonhado e desejado.

Daqui,
da minha cama
sob o teto aberto e um céu que se diz meu agora
lambendo os dedos

e sorrindo com os olhos
passo a língua pelos lábios
e sinto o gosto na boca
do doce impregnado na alma.

(Darla)
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