quinta-feira, abril 30

A palavra é: Cais

 
Passado um tempo de andanças sem destino,
veio subitamente a vontade de retornar à gare companheira,
o desejo emergente de se prender ao Cais.

Havia tocado ondas, visto os céus estrelados dos sete mares, provado o sal nos lábios, o brilho eterno das festas distantes e a oculta alma vazia que lhe parecia encher.
Atracara vez ou outra em países estrangeiros e deixara-se embriagar por vinhos viajantes, marginais ou infantis, que sabiam distrair, mas que não tinham onde prender a corda, deixar os ombros da nau se estirarem e descansarem como quando em casa.

Mas ele sabia o que queria, e era,
Cais.
Pra onde sempre voltaria,
Cais.

Que descia os olhos sobre ele dia e noite e que dividia o exato instante sublime do poente,
onde lançaria sua corda, desembarcaria seu quinhão mais valioso e suspiraria aliviado por ter e saber ter,
o Cais.

Cruzado o horizonte da proximidade, podia ver o sorriso aberto do que lhe aguardaria sempre e desde longe veio bailando sobre a água e criando ondas que beijavam o amado antes mesmo da sua chegada.

Logo atracaria
E se deixaria ser...
do Cais.

(Darla)

domingo, abril 19

Amor é síntese*

 
"Por favor não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito amor."

(Mário Quintana)


(*)Obrigada caro Quintana por, de certa forma, me rabiscar aqui.

quarta-feira, abril 15

5 folhas A4

 
Debruçou-se à janela,

O olhar perdido dançando entre os passantes e o céu azul embriagado do doce cheiro de sábado.

Um suspiro e outro, a mente tentando distinguir tantos rostos novos e a ansiedade sendo engolida compassadamente junto à saliva.

Um som vizinho a desperta: [folhas]

Volta seu olhar à janela companheira e avista ali o moço a lamentar-se pelas folhas que lhe faltam no jardim.


Ela estende a mão e toma as únicas 5 folhas que lhe traziam sombra e as entrega.

Ele se olha, olha para ela, para as folhas, para seu jardim sem folhas e as aceita prometendo plantar outras novas.

Mas isto já não a importava, estava satisfeita pela quase sensação de plantar no quintal vizinho, sentiu assim que ele seria seu também.

E desde então nunca mais se sentiu sozinha à janela, nem ali, nem quando estava à porta, ou a dormir, ou a passear...
O sol passou a iluminar sua face antes coberta e ambos jardins floriam bem mais.

(Darla)

quinta-feira, abril 9

Método das fatias ou dos blocos [teoria da conformação emocional]

 
Divida-se, totalmente, em partes infinitesimais e distribua-se.
Lembre-se que, por maior que seja o esforço, por mais que você se doe,
a deformação nunca será de toda permanente, parte sempre retorna ao estado inicial, parte sua é sempre essência.
E diviidindo-se, lembre-se de se integrar.
Some-se ao outro, misture-se, faça o balanço de forças e descanse.
Pressões são comuns, estarão por toda parte em intensidades maiores ou menores, mas foque no resultado, ele é sempre desejável.
Ao final, terá forma, terá utilidade e será alguém para outro alguém.

(Darla)

terça-feira, abril 7

sábado, abril 4

A sombra que me cortou


[Tirinha Ricardo Liniers]

Chega de sinceridade!
[um grito surdo lhe rasgou a garganta]

Com os pulsos cerrados,
O pequeno ponto de luz
cortava as sombras dos passantes nas ruas.

Pés duros plantados no chão ofegante,
Pensamentos cravados nas indagações da mocidade
E peito cheio de gritos surdos tão eloqüentes que faziam vibrar os cristais.

[Assim a vi e assim a pinto...e quis compartilhar]

(Darla)
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