Lucíola era daquelas moças que pertencia aos seus olhos.
Queriam-na pintada, e lá estava ela, com todas nas nuances de cores e detalhes.
Queriam-na sorrindo, e ela tratava de colocar logo um belo e satisfeito sorriso no rosto.
Queriam-na ajeitando as coisas, opinando sobre economia, astronomia, música ou arte, e ela tratava de cobrir-se do seu porte mais intelectual.
Queriam-na indefesa e sensível. Intocável e sublime. Disponível e sempre alerta. E ela não decepcionava.
Mas Lucíola revelava paixões por pequenas coisas: borboletas, olhos sérios e misteriosos, conversas rasteiras e sussurradas, movimentos de mãos, andares, cheiros. Andava nas ruas, e não estava lá, sempre no refúgio gratuito dos amigos pasargadenses e das confidências com a amiga alada. Mas sua paixão por pequenas coisas não a deixava descansar naquele seu mundo particular, era como se algo surpreendentemente necessário lhe faltasse.
E nada foi capaz de sossegá-la e toda literatura não foi capaz de lhe trazer as respostas.
Mas um dia, como qualquer outro, à janela, foi golpeada e arrebatada pela resposta mais eloqüente que poderia desejar ter.
A resposta era Luz.
E se fez só Luz...e borboleta, é claro.
E se sente dona das ruas por onde passa.
(Darla)