quarta-feira, agosto 26

Quando não se esquece

 
Como fio de luz ela vem
aproveita as mais estreitas frestas da alma para entrar
vem como navalha cortanto
sangrando de sal os olhos
desenhando a tristeza por onde passa

é como ser criança e passar em frente à vitrine da doceria e desejar a torta com cobertura de chocolate e morango em cima e não poder tê-la
você sente o gosto na boca, a salivação aumenta, as pupilas dilatam, o coração dispara, mas a torta pertence à doceria e você à rua que precisa ser seguida.

ela vem no momento inoportuno e tira a fome, o gosto e faz queimar o estômago.

ela vem devastando e desestabilizando.

a lembrança

(Darla)

sexta-feira, agosto 14

A que passava

“Uma caipiríssima, pouco gelo e muita vodka, por favor!”

É madrugada e ela tá lá naquele bar vazio, olhando pra cara do garçom quase íntimo. O jazz do músico fracassado ao fundo e o olhar do estranho fuzilando-a.

“Qual é? Olhando o quê? Perdeu alguma coisa aqui?”

Não estava sob efeito do álcool, era fraca, uma única dose e só queria cama [pra dormir], ela tava é puta mesmo, não tava, ela era puta, não vadia que sai dando por dinheiro, puta de revoltada, irritada...cheia.
O estranho, com um meio sorriso, sentou-se no balcão, no banco ao lado, e a olhou nos olhos.

“Ei menina, qual é o nome da revolta? Cospe ela aqui.”

Ela lançou um olhar de desprezo e riu-se.
10 min depois já eram íntimos. Nada de pegação, mas de conversa. Ambos estavam carentes de uma boa conversa e despretensiosamente ela fluiu.
Falou-se da infância até à puberdade, da escola de música deixada de freqüentar na adolescência, até os detalhes das escadarias do lugar viajado no ano passado.
Ela falou que queria ser burra, analisar menos e deixar de querer ter respostas pra tudo.

“Putz, deve ter sido aquela professora de português, foi ela a culpada.”
“Oras, ninguém é culpado...”
“Droga!”


[pensamentos]

“Essa casca vitoriana, que vontade de me despir. Quero vestido listrado, all star, lápis nos olhos. Quero blusas de todas as cores, xadrez, flores, chita...e pronto. E quero dizer foda-se, porra,...essas coisas, sem pudor. Porque todo mundo pensa isso e fala isso, mas eu cismei que não podia.”

O cara riu-se.

Mais uma dose, mais uma gargalhada, uma cumplicidade de olhar e ele disse adeus.

Ela disse até logo pois odiava perdas.

Mais uma noite e mais uma vez ela simplesmente ‘passava’.

(Darla)

domingo, agosto 9

smile

“Menininha sai do portão
Vem também brincar
Vem pra roda
Me dê a mão
Traz o seu olhar”

O dia eu não lembro, o estado de espírito tão pouco, mas sei que andava sem rumo pelos caminhos virtuais, entre pessoas [reais ou não] e suas fotos [porque vejo alma nelas]. e garimpando descrições e grupos de idéias convergentes, me vi abrindo uma caixinha cheia de diários virtuais [gritos], de todos os tipos. resolvi parar e tentar tomar ar em alguma casa de portas abertas e palavras amigas, mas não imaginava encontrá-la, não poderia supor a grande descoberta do dia. não sei o que me atraiu. talvez aquela palavra que imediatamente quis saber o significado: pareidolia [sobre como ver diferente tudo aquilo que se vê]. sorri. [ahhhhh, o meu filme preferido]. talvez foi aquele olhar que me atraiu. não pela notável beleza, mas pela eloqüência com que me chamava: venha! fui até lá. adentrei aquele mundo encantado do ‘sobre’. sobre como ser impactada, sobre como encontrar algo que realmente te mova... fiquei tão embriagada que li uma, duas... milhares de vezes e a cada leitura via algo novo, me via, via outra de mim...enfim...tinha os meus olhos brilhando de fascínio. vinda de Plutão, trouxe mais cor a minha vida. e ela expôs meu grito quando eu mesma não conseguia falar e me fez leve. e me presenteou com os textos mais lindos, verdadeiros e que cabiam direitinho nos vazios que meu coração desejava preencher. ainda adoro desvendar novas vidas, ainda adoro fotos e novas palavras e tecê-las também, mas essa ‘passarinha’ .... me deu novos olhos.

[sorriso]

[obrigada Fayzinha, não podia deixar de falar.]

(Darla)
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