quarta-feira, setembro 2

Vende-se um coração



Vende-se um coração

Quase novo
(eu juro)
ainda bem vermelho, regado de sangue moço e de vontade por sentir.

Sofre de algumas arritmias diante de cheiros e memórias que trazem lembranças, mas se vendido, vai sem elas, eu prometo.

O comprador não vai se arrepender.

Cicatrizes? Sim, ele tem, mas eu cuidei que elas fossem formadas vagarosamente, então, tem seu certo charme.
Ops...uma ferida...uhmmm...ainda sangra...mas sei que um dono zeloso vai saber cuidar dela.

Garanto que é um dos maiores do mercado
Cabe quase o mundo inteiro e olha que a dona nem é mãe.

Amplo, espaçoso, confortável, cheio das vantagens desejadas por muitos, mas os condôminos até então não souberam valorizar
Os últimos locatários, por exemplo, nem sequer o pintaram antes de partir, simplesmente se foram, deixando a porta aberta, vidros quebrados, um sofá velho...mas eu tô cuidando de entregar ao dono definitivo um lugar legalzinho como era quando o recebi.

Enfim, quero vendê-lo. Preciso me desapegar. Cuidar disso tudo sozinha tem me dado um cansaaaço... E às vezes quero viajar e tenho receio de deixá-lo assim, sem mim.

Então, melhor vendê-lo a quem vai enchê-lo de crianças e sorrisos, e cheiro de café às 5 da tarde e flores e passos ...

Vende-se um coração
Quase novo

(Darla)

Um comentário:

.Fran. disse...

Me vi em algumas frases... seu texto tem eco em mim.

Sincero, honesto. Belo texto.
bjus!

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