quarta-feira, janeiro 14

Quando fui salva














Cheguei-me perto à janela do trem imerso com seu cheiro de história, que quis roubar pra mim numa única inspiração.
Um senhor assobiava distraidamente ali próximo, chapéu cerrado e mãos ágeis sobre um papel.
Uma menina dormia preguiçosamente no colo do pai que sorria e afagava-lhe os cabelos.
Duas mulheres de meia idade conversavam sobre bolos e pães.

Tanta vida ali. E desejei me afogar nos pensamentos de todos, retirar de cada um o fragmento de vida que necessitava naquela minha viagem pra qualquer lugar, sem é claro, deixá-los vazios ou marcas.

A paisagem que me recepcionava e se despedia a cada piscar de olhos me hipnotizava e por um instante creio ter sentido o calor dele me abraçando por trás e fechei os olhos no anseio por parar o tempo e aprisioná-lo em mim.

O frio do vento que me tocava as costas logo me despertou e retornei ao imenso trem.

Senti minha saia sendo puxada e olhando num assombro os pés, contemplei os olhos mais ricos que poderia imaginar ver. Um pequeno que me quis dizer, sem palavras, que percebia minha presença ali e que de mim não queria mais que um sorriso.

E eu o dei.

Retornei ao assento, lancei minhas pernas sobre o banco oposto, tomei o velho violão sobre o colo e compus para eles, os olhos mais sinceros que já pousaram sobre mim.

E eles sorriram.



(Darla)

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