sábado, janeiro 31

 
Ondas castanhas agora já embriagadas de sal e mar
Visitam os vastos litorais do conhecer humano
Banham seios adoráveis
Registram cenas na madrugada de areia fria e mar ameno
E uma fina garoa a tocar as costas

Ondas castanhas que encontraram aconchego no entrelaço moço
E que nostálgicas seguem a linha, respirando o cheiro e desejando o dia

Ondas castanhas que agora mais que sorriem na direção sudeste
Quando foram alcançadas.

(Darla)

quarta-feira, janeiro 28

Conselho das horas

 
Ah, são nessas estradas da vida que me espreito às vezes
E torno-me o que vejo e misturo-me ao que sinto

E me desprender pelo caminho não seria tão impossível
Encontrar novos cheiros e paisagens e resolver por lá ficar
Com as águas até a cintura
Cordões envolvendo os cabelos e o pescoço
Sorrisos à meia luz
Sempre banhada pelo sol

E a cada instante olhar na direção de onde vim e ver tudo mais e mais distante
e mais ameno e sossegado na inércia de não se arriscar
E dar de ombros
Ouvir a batida sonora que vibra os pés e mãos e me levam pra outro cume e outra visão

[E sempre esse mesmo sol que adoro]

Ser tempestade e ganhar o mundo, o mar, os planaltos
Descansar de noite como brisa na casa companheira
E sair como ventania remexendo cabelos e espalhando perfume

Ah...como é bom...

(Darla)

segunda-feira, janeiro 26



E se ele não estivesse aqui nesta mesma terra e neste mesmo tempo
Pressinto que eu teria que virar fumaça pra tentar buscá-lo onde for...

(Darla)

domingo, janeiro 18

Sinergia

 
Clarice* botou-me uma pergunta e parei pra pensar:
Sou Brisa ou Ventania?
As duas! - respondo, sem pestanejar, a mim mesma.
Ora, mas se sou as duas, então, quando sou Brisa e quando sou Ventania?
Brisa quando escrevo e Ventania quando calculo?- um sussurro.
Não, não creio que seja assim.
Existe o estado de Brisa-Ventania? As duas podem coexistir?
E respondo:
Sim, em mim, podem sim existir.

Saudações, Brisa, pra você que me vê
Prazer, Ventania, pra você que me sente.
(Darla)
[*Clarice Lispector]

sábado, janeiro 17

Gritos do silêncio


















Cheguei à estação, desembarquei, eu e minhas malas, bagagens de alguns anos.

Mas cheguei com bem menos do que no início da boa viagem.
Dei alguns presentes e fiz gente feliz com aquilo que não mais me trazia euforia. Compartilhei umas coisas. Pela janela deixei outras, e as vi voar como pássaros e na estrada encontrar abrigo. Fez-me bem saber que flori certos caminhos que ficaram pra trás.
Ah, ganhei presentes também. Conseqüência do sorriso largo e verdadeiro que permiti por alguns momentos ganhar meu rosto. Ganhei porque doei.
E esse ensinamento levarei comigo.

Mas nada semelhante ao menino. Nada me fez mais viva e mais loucamente livre do que aqueles olhos sonoros e dedicados.
E de tão familiares que me foram, acompanharam-me.

Tomei a mim e aos meus pertences e segui.
Quero conhecer a cidade, vasculhar cada milímetro e desvendar cada mistério. Provar cada sabor, ouvir cada nota, respirar cada perfume, ver cada detalhe e sentir cada relevo, desde as ruas, tetos, até o céu.

Olho sobre os ombros e ali estão eles.
Olhos pequeninos que agora fazem parte de mim.

(Darla)

quarta-feira, janeiro 14

Quando fui salva














Cheguei-me perto à janela do trem imerso com seu cheiro de história, que quis roubar pra mim numa única inspiração.
Um senhor assobiava distraidamente ali próximo, chapéu cerrado e mãos ágeis sobre um papel.
Uma menina dormia preguiçosamente no colo do pai que sorria e afagava-lhe os cabelos.
Duas mulheres de meia idade conversavam sobre bolos e pães.

Tanta vida ali. E desejei me afogar nos pensamentos de todos, retirar de cada um o fragmento de vida que necessitava naquela minha viagem pra qualquer lugar, sem é claro, deixá-los vazios ou marcas.

A paisagem que me recepcionava e se despedia a cada piscar de olhos me hipnotizava e por um instante creio ter sentido o calor dele me abraçando por trás e fechei os olhos no anseio por parar o tempo e aprisioná-lo em mim.

O frio do vento que me tocava as costas logo me despertou e retornei ao imenso trem.

Senti minha saia sendo puxada e olhando num assombro os pés, contemplei os olhos mais ricos que poderia imaginar ver. Um pequeno que me quis dizer, sem palavras, que percebia minha presença ali e que de mim não queria mais que um sorriso.

E eu o dei.

Retornei ao assento, lancei minhas pernas sobre o banco oposto, tomei o velho violão sobre o colo e compus para eles, os olhos mais sinceros que já pousaram sobre mim.

E eles sorriram.



(Darla)

terça-feira, janeiro 13

Prece vespertina

Veio como uma ventania
Dessas que reviram árvores e destelham casas
Deixou-a sem abrigo
sem equilíbrio e sem sossego
Veio arrancando tudo
sua segurança, sua proteção
destruindo seus enconderijos
tirando seus pés da linearidade do chão

Dai fragmentos teus
[Um ao menos]
Mas não passe sem deixar mais dos teus fragmentos
Para que ela possa ir se completando
fechando lacunas
ligando seus pedaços e fechando vazios

Dá-lhe mais dos teus fragmentos
Mais dos que os que já estão emaranhados em seus cabelos
Tatuados em seus olhos
Desses que já se diluíram no sangue e no suor

Veio como o vento sul
Um sopro ardente de verão
Que passou a queimar, a desnortear
E a quase doer


(Darla)

sábado, janeiro 10

Namastê*

O exato instante entre o adormecer e o despertar
Toda Ela está no alto, e nesta terra toca não mais que a ponta dos pés
Uma conexão sutil, mas intensa

Sente-se como um sopro
E se encontra em raros momentos
Quando contempla a natureza, manuseia a ciência, folheia sorrisos e dores, quando se vê em um olhar ou quando ouve o grito de uma alma que passa ao seu lado...
Ela sabe que vê e sente além.

Hoje percebeu sua essência numa flor de lótus
E se aceitou flor
Não qualquer flor, mas a de lótus

E sendo-a, entendeu seu interior ser todo coração, seu calor intenso, sua pureza das pétalas que repelem o mal
Seu mistério, seu ar místico, sua atração pelo sol

E se vendo assim, se viu melhor
Porque se viu inteira

E desejou coroar aquele que a desabrochou.


(Darla)

[ * "a minha essência saúda a sua essência"]

terça-feira, janeiro 6

I'm reggae

Hoje quero me afogar em uma garrafa de vinho barato
Ouvindo música [todos os ritmos e acordes]
Apagar a luz
Me aquecer
E simplesmente esquecer

Desassossegadamente quero esticar
E acho que Cazuza é a trilha perfeita pra momentos assim

[E nada de mentiras sinceras, por favor]

Também cansada de correr na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorado
Eu sou mais um
Desassossegado

Num dia de mente turva
Pensando tanto
Querendo tanto e até menos
Com menos da paciência de Lenine

Uma maior abandonada
Com pequenas porções de ilusão
E pitadas de reggae

Is this love?
I wanna know, I got to know
...

(Darla)

segunda-feira, janeiro 5

Perdão pelo devaneio noturno

Leituras, poemas, rabiscos novos e antigos da internet
Fotos e caprichos dele
Pensar nele
...
Escovar os dentes
Me carregar até a cama e me perder entre lençóis
Ter os sonhos mais bizarros e lúdicos possíveis
Levantar cedo, no exato minuto antes do despertador

Algo novo pela manhã
[exame de sangue]
[Aff...estou em jejum...
E um pavê de bombom na geladeira! Que desperdício...]

Pensar nele
[é...outra vez]

[Preciso desligar o computador]

Dormir
Não é hora, mas é o melhor a fazer agora
[que bom que inventaram o sono]
(Darla)

Resoluções para o ano [1]

Ando afoita por viver
[Perdoe minha ansiedade]

Mas resolvi seguir o conselho da Fayzoca
E perceber que o caminho é lindo, que tem muito pra me dar
E que é importante, muito mais que a chegada

Viverei o caminho
Sentirei
Suarei o caminho
E quem sabe eu me perco por aí e acabo por me encontrar?

Um ótimo começo para um ano, não acha?

[ uma piscadinha de olho pra você que me lê ;) ]

(Darla)

domingo, janeiro 4

Caleidoscópica

Cada minuto que passa me deixa aterrorizantemente desesperada
Desesperada pelo beijo
Pelo olhar
E pelo fim da espera

E sinto tudo adormecendo em mim
Mãos, braços
Pernas...olhos...
Tudo
Derretendo e se esvaindo, fugindo de mim
Do meu controle
[e por que controlar?]

Sou mesmo caleidoscópica
Uma fera adormecida
Presa numa caixa
Mas olhe...já vejo luz

Realmente Clarice,
Perder-se também é um caminho.



(Darla)




"Sinto a falta dele como se me faltasse um dente na frente: excrucitante."



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