domingo, março 29

Meu


És meu, meu menino marginal.
E por que meu?
Meu, porque foi costurado por dentro.
Porque o vejo como a roupa que me cai bem,
como uma vaga imagem de mim que nunca foi minha, sempre perdida.

E loucamente sinto saudade.
E bem mais loucamente, desejo manter-me perto, bem mais perto que a respiração,
não para carícias, mas para me sentir mais inteira.

E, não precisaria sequer uma palavra, nenhuma conversa sobre os mistérios da vida, sobre as caixas de pandora e essências...
Só ficar ali, por perto, olhando o mesmo ponto, rindo da mesma besteira,
eu sendo eu, você sendo você e aquela parte de mim, ela sim, recostaria e poderia repousar pois saberia que sua missão estava cumprida.

És meu, meu garoto marginal.
‘E a noite é um berço pra quem quer sonhar’.

(Darla)

sexta-feira, março 27

"loucamente", eu li

 
Cerra entre as mãos o rosto companheiro
Sem medo do que verá bem perto dos olhos, além dos limites do corpo e da proximidade cristã.
Toca os traços marcados dos dias partidos e não se vá.

Cerra entre os dedos a pele quase intocada até sentir os poros diluídos às linhas da palma e os cabelos como cordas a enlaçarem os ombros, os braços.

Sinta com ardor
De forma que a estrutura corpórea se dissolva aquele corpo,
aquele rosto,
àquela respiração desritmada.

Toma entre as mãos como quem toma o alimento, o objeto preferido, a lembrança

E plante a pergunta: _ Como tiro você de mim?

(Darla)

domingo, março 22

Conjugando o verbo 'Claricear'

Falta-me prazer nas coisas e sobra-me esse desejo dele ...

Os olhos Dela assim tão sérios e até gélidos
[Nunca imaginaria ter tanta vida ali, sob eles, e menos ainda, ter tanto de mim, tanto desse algo como eu mesma, que nem me sei o nome]

Fui entrecortada por aquelas linhas, dilacerada pelas palavras que Ela cozera.
Entrecortada sim, como a luz que invade qualquer janela e lugar que deseja dominar.

Fui rasgada como véu, exposta a mim mesma numa nudez constrangedora,
e boquiaberta, pasma, faltou-me a reação, que me costuma ser natural.
Sobraram-me sim, desajeitos,
faltaram-me as respostas prontas, das quais lanço mão como que abrindo um almanaque de frases feitas para coisas que não as devem e nem podem ter.

Gélida como aquele olhar,
imóvel como o criado mudo que observa a intimidade do casal sem nunca os apontar,
ali, largada,
entre as páginas fiquei,
e o fôlego preso...

Que só agora percebo.

(Darla)

quinta-feira, março 19

Um suco de nuvem, por favor


Queria tomar suco de nuvem
e pílulas de leveza todos os dias, em jejum.

E ouvindo o ‘último romance’
deixar os ombros se moverem como em ondas,
os olhos se apertarem, repetindo o refrão.

E nessa hora, um vento novo iria ganhar todo o apartamento
e fazer ali o filhote de furacão que sempre quis ser,
o futuro de toda delicadeza que se preze [como disse Clarice].

Talvez mexer três folhinhas bem de leve ou arrancar três sorrisos bem disfarçados seja o bom começo para o meu futuro de furacão.

Acho que queria tomar mesmo era um porre de nuvem
e tarja preta de leveza em pílulas [bem pequenininhas].

E que de tão brisa, de tão acima, de tão flutuante que eu seja...
Possa ser só alma vagando atrás do último olhar.

(Darla)

domingo, março 15

Um bom amante


Corpo estirado sobre a cama
Próximas aos olhos, as letras em caixa alta:
FELICIDADE CLANDESTINA
Era ele, o “amante” do dia.

Um cheiro de sabão em pó das colchas recém lavadas
Algum sol cortando as persianas,
mas ainda uma meia luz...
E ela abria e fechava os olhos e o via, ali, sob seus olhos, apaixonado e amado.
E ela riu-se, riu-se embriagada e respirou com o rosto sufocado pelo travesseiro.

Como é simples ser feliz em pequenos e sorrateiros momentos do dia,
como naquele, pós almoço: hora do melhor dos sonos, das preguiças e dos pensamentos altos e longes...

Engoliu-se suspirando,
Sorriu,
Espreguiçou-se...

E tocando-o, enfim adormeceu...


(Darla)

segunda-feira, março 9



Uma caixinha

Que guarda laços e fitas do que ela era enquanto menina
Sorrisos e olhares eternizados que colheu nos caminhos da vida e que sempre vêm a ela antes de pegar no sono, sempre naquele exato instante do cerrar dos cílios
Fotos dos que queria guardar em potes com ela, mas que não pôde

Sonhos, alguns esquecidos, outros adormecidos e alguns persistentes que esperam ansiosos a hora de ganharem vida

Certas músicas ou apenas sons que a tocam

Cheiros...sim...cheiros...café, doces, ele...

Muitas saudades
Infinitas perguntas sem respostas
Cansaço (sempre)

Uma caixinha...
Que se pinta, se transforma...mas que lá dentro guarda sempre as mesmas coisas...

(Darla)

sábado, março 7

Ausência


Fez-se casca e perguntou-se:
Existe?

Ouviu respostas que precisava,
contou as horas corridas
e se recolheu.

Até que viu aqueles olhos cheios de lágrimas de dor
e se viu neles
como não imaginava mais poder ver
e percebeu que tudo poderia ser muito mais difícil do que lhe parecia até então.

E chorou
E sorriu o desespero
Adormeceu no sofá
E quis dizer que sim
e que sim
e que sim
...

Despertando, achou que melhor agora seria fugir...

Até que a ausência anunciada lhe gritou aos ouvidos
e não havia mais o que dizer, o que procurar, esperar ou desejar.
Ela se fazia presente há muito.

Era melhor acolhê-la
e assim se fez.

(Darla)

domingo, março 1

Inteiro:

Do lat. Integru

Adj.,
Completo;
Que tem todas as suas partes;
Que não sofreu diminuição;
que está no gozo de todas as suas posses, forças, meios;que consta só de unidades (número);austero;íntegro;recto;incorruptível;

s.m.,
número em que não entram frações ou parte decimal.


Ser inteira
[não é pedir demais]

(Darla)
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